GONÇALVES DIAS
poesias para prise 2 / prosel 2
Gonçalves Dias - Marabá
Eu vivo sozinha; ninguém me procura!
Acaso feitura
Não sou de Tupá?
Se algum dentre os homens de mim não se esconde,
— Tu és, me responde,
— Tu és Marabá!
— Meus olhos são garços, são cor das safiras,
— Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
— Imitam as nuvens de um céu anilado,
— As cores imitam das vagas do mar!
Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
"Teus olhos são garços,
Responde anojado; "mas és Marabá:
"Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
"Uns olhos fulgentes,
"Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!"
— É alvo meu rosto da alvura dos lírios,
— Da cor das areias batidas do mar;
— As aves mais brancas, as conchas mais puras
— Não têm mais alvura, não têm mais brilhar. —
Se ainda me escuta meus agros delírios:
"És alva de lírios",
Sorrindo responde; "mas és Marabá:
"Quero antes um rosto de jambo corado,
"Um rosto crestado
"Do sol do deserto, não flor de cajá."
— Meu colo de leve se encurva engraçado,
— Como hástea pendente do cáctus em flor;
— Mimosa, indolente, resvalo no prado,
— Como um soluçado suspiro de amor! —
"Eu amo a estatura flexível, ligeira,
"Qual duma palmeira,
Então me responde; "tu és Marabá:
"Quero antes o colo da ema orgulhosa,
"Que pisa vaidosa,
"Que as flóreas campinas governa, onde está."
— Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
— O oiro mais puro não tem seu fulgor;
— As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
— De os ver tão formosos como um beija-flor!
Mas eles respondem: "Teus longos cabelos,
"São loiros, são belos,
"Mas são anelados; tu és Marabá:
"Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
"Cabelos compridos,
"Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá."
————
E as doces palavras que eu tinha cá dentro
A quem nas direi?
O ramo d'acácia na fronte de um homem
Jamais cingirei:
Jamais um guerreiro da minha arazóia
Me desprenderá:
Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que sou Marabá!
Análise ´Prof. Gil
Mattos
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A índia em várias
estrofes é descrita para ao mesmo tempo exaltar a sua beleza e enfatizar a sua
frustração por não encontrar o amor por ser mestiça. No fragmento (As brisas
nos bosques de os ver se enamoram), aqui a beleza da índia é posta em destaque,
porque os bosques se enamoram de tanta beleza, caso de personificação. (Têm luz
das estrelas, têm meigo brilhar) , neste verso, a beleza da índia é centrado no
brilho de seu olhar. Os olhos dela são tão belos que são comparados à luz das
estrelas através de uma metáfora.
Para dar mais ênfase
ao sentimento e a vontade de expressar-se o eu lírico recorre a mistura de
sentidos para tentar alcançar a clareza em transmitir os sentimentos
melancólicos, (E as doces palavras que eu tinha cá dentro/A quem nas direi?),
as palavras doces referem-se ao que a personagem Índia marabá sente, amor e
carinho, mas que ela não pode dizer, porque não quem possa ouvir.
Percebe-se claramente neste poema marcas românticas tal como a figura do índio, mas não um índio qualquer, uma índia Marabá, ou seja, uma índia mestiça que representa melhor o povo brasileiro e a cor-local. O amor melancólico e desesperado também faz parte da temática deste poema. A índia no poema enfrenta uma grande crise amorosa ao sentir o desprezo que ela causa por ser Marabá. A moça “marabá” está desiludida porque, apesar de ser bonita, nenhum dos guerreiros de Tupá a procuram, porque ela é mestiça. Ela não pertence àquele lugar. Em Marabá podemos dizer que apesar do forte lirismo, esse poema não pertence a lírica pura. O eu lírico cede voz às demais personagens: "Quero antes um rosto de jambo corado,
"Um rosto crestado "Do sol do deserto, não flor de cajá."(Neste trecho podemos o índio guerreiro dizendo que prefere uma moça com a pele mais corada, porque a flor de Cajá é um pouco mais clara.)
Percebe-se claramente neste poema marcas românticas tal como a figura do índio, mas não um índio qualquer, uma índia Marabá, ou seja, uma índia mestiça que representa melhor o povo brasileiro e a cor-local. O amor melancólico e desesperado também faz parte da temática deste poema. A índia no poema enfrenta uma grande crise amorosa ao sentir o desprezo que ela causa por ser Marabá. A moça “marabá” está desiludida porque, apesar de ser bonita, nenhum dos guerreiros de Tupá a procuram, porque ela é mestiça. Ela não pertence àquele lugar. Em Marabá podemos dizer que apesar do forte lirismo, esse poema não pertence a lírica pura. O eu lírico cede voz às demais personagens: "Quero antes um rosto de jambo corado,
"Um rosto crestado "Do sol do deserto, não flor de cajá."(Neste trecho podemos o índio guerreiro dizendo que prefere uma moça com a pele mais corada, porque a flor de Cajá é um pouco mais clara.)
A moça (eu lírico)
também delira e sofre por amor. “Se ainda me escuta meus agros delírios:” Os
amargos delírios a consomem e ela sempre se tem rejeitada pelos homens da
tribo. O modo como o eu lírico descreve
o espaço misturando esses elementos com a descrição da própria moça, espaço e
personagem se fundem. Carregada de metáforas e outras figuras de linguagem que
trazem a moça e o espaço com um único elemento: "És alva de lírios",
e “As brisas nos bosques de os ver se enamoram,
— De os ver tão formosos como um beija-flor!”“. Essas figuras exaltam o elemento paisagístico.
— De os ver tão formosos como um beija-flor!”“. Essas figuras exaltam o elemento paisagístico.
Ainda é importante
dizer que Gonçalves Dias foi mestiço e sofreu muito por isso. Essa origem
mestiça causou grande frustração na sua vida impedindo-o de se casar com Ana
Amélia e que aparentemente o poeta jamais se recuperaria desse evento. A
frustração experimentada por essa índia também é a mesma frustração
experimentada pelo próprio poeta que é impedido do amor verdadeiro por sua
origem mestiça.
O CANTO DO PIAGA – Gonçalves Dias
O poema em questão chama-se "o Canto
do Piaga", publicado em 1846 na obra "Primeiros Cantos". O poema
chama a atenção pelo fato do Piaga (o pajé), ser atormentado por um fantasma
Anhangá (espírito do mal), que faz predições do que viria a acontecer à tribo,
depois da chegada do "homem branco" - tratado no poema como um
monstro - que iria profanar toda sua cultura, os Manitôs (divindades) e Maracás
(tipo de chocalho que os indios usavam nos ritos). É com beleza que o autor
descreve o que de fato viria acontecer as tribos depois dos europeus.
Vejamos...
I
Ó GUERREIROS da Taba sagrada,
Ó Guerreiros da Tribo Tupi,
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi.
Ó Guerreiros da Tribo Tupi,
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi.
Esta noite - era a lua já morta -
Anhangá me vedava sonhar;
Eis na horrível caverna, que habito,
Rouca voz começou-me a chamar.
Anhangá me vedava sonhar;
Eis na horrível caverna, que habito,
Rouca voz começou-me a chamar.
Abro os olhos, inquieto, medroso,
Manitôs! que prodígios que vil
Arde o pau de resina fumosa,
Não fui eu, não fui eu, que o acendi!
Manitôs! que prodígios que vil
Arde o pau de resina fumosa,
Não fui eu, não fui eu, que o acendi!
Eis rebenta a meus pés um fantasma,
Um fantasma d'imensa extensão;
Liso crânio repousa a meu lado,
Feia cobra se enrosca no chão.
Um fantasma d'imensa extensão;
Liso crânio repousa a meu lado,
Feia cobra se enrosca no chão.
O meu sangue gelou-se nas veias,
Todo inteiro - ossos, carnes - tremi,
Frio horror me coou pelos membros,
Frio vento no rosto senti.
Todo inteiro - ossos, carnes - tremi,
Frio horror me coou pelos membros,
Frio vento no rosto senti.
Era feio, medonho, tremendo,
Ó Guerreiros, o espectro que eu vi.
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi!
Ó Guerreiros, o espectro que eu vi.
Falam Deuses nos cantos do Piaga,
Ó Guerreiros, meus cantos ouvi!
II
Por que dormes, Ó Piaga divino?
Começou-me a Visão a falar,
Por que dormes? O sacro instrumento
De per si já começa a vibrar.
Começou-me a Visão a falar,
Por que dormes? O sacro instrumento
De per si já começa a vibrar.
Tu não viste nos céus um negrume
Toda a face do sol ofuscar;
Não ouviste a coruja, de dia,
Seus estrídulos torva soltar?
Toda a face do sol ofuscar;
Não ouviste a coruja, de dia,
Seus estrídulos torva soltar?
Tu não viste dos bosques a coma
Sem aragem - vergar-se e gemer,
Nem a lua de fogo entre nuvens,
Qual em vestes de sangue, nascer?
Sem aragem - vergar-se e gemer,
Nem a lua de fogo entre nuvens,
Qual em vestes de sangue, nascer?
E tu dormes, ó Piaga divino!
E Anhangá te proíbe sonhar!
E tu dormes, ó Piaga, e não sabes,
E não podes augúrios cantar?!
E Anhangá te proíbe sonhar!
E tu dormes, ó Piaga, e não sabes,
E não podes augúrios cantar?!
Ouve o anúncio do horrendo fantasma,
Ouve os sons do fiel Maracá;
Manitôs já fugiram da Taba!
Ó desgraça! Ó ruína! Ó Tupá!
Ouve os sons do fiel Maracá;
Manitôs já fugiram da Taba!
Ó desgraça! Ó ruína! Ó Tupá!
III
(...)
Esse monstro... - o que vem cá
buscar?
Não sabeis o que o monstro procura?
Não sabeis a que vem, o que quer?
Vem matar vossos bravos guerreiros,
Vem roubar-vos a filha, a mulher!
Não sabeis a que vem, o que quer?
Vem matar vossos bravos guerreiros,
Vem roubar-vos a filha, a mulher!
Vem trazer-vos crueza, impiedade -
Dons cruéis do cruel Anhangá;
Vem quebrar-vos a maça valente,
Profanar Manitôs, Maracás.
Dons cruéis do cruel Anhangá;
Vem quebrar-vos a maça valente,
Profanar Manitôs, Maracás.
Vem trazer-vos algemas pesadas,
Com que a tribu Tupi vai gemer;
Hão-de os velhos servirem de escravos
Mesmo o Piaga inda escravo há de ser?
Com que a tribu Tupi vai gemer;
Hão-de os velhos servirem de escravos
Mesmo o Piaga inda escravo há de ser?
Fugireis procurando um asilo,
Triste asilo por ínvio sertão;
Anhangá de prazer há de rir-se,
Vendo os vossos quão poucos serão.
Triste asilo por ínvio sertão;
Anhangá de prazer há de rir-se,
Vendo os vossos quão poucos serão.
Vossos Deuses, ó Piaga, conjura,
Susta as iras do fero Anhangá.
Manitôs já fugiram da Taba,
Ó desgraça! ó ruína!! ó Tupá!
Susta as iras do fero Anhangá.
Manitôs já fugiram da Taba,
Ó desgraça! ó ruína!! ó Tupá!
Com certeza o poema possui um tom trágico. o
monstro (europeu) que viria arruinar as tribos é tratado como o mau. Há um
maniqueísmo no poema. Dias, procurando valorizar o Índio, povos originários da
nação, coloca o Europeu como destruidor malvado e profanador. Realmente,
quando vemos em história, os fatos que acompanham a colonização sul-americana
vemos uma cultura impondo-se sobre outra, e também transformando a outra. Porém
o historiador, diferente do 'às vezes trágico' poeta, sempre procura ter um
lado mais imparcial possível, procurando não cometer injustiças em suas
análises. Ele teme o anacronismo e qualquer tipo de etnocentrismo, que sua
análise possa trazer. É importante a questão ética do trabalho do
historiador, que não pode sair fazendo julgamentos apressados sobre fatos num
olhar em que o contexto é outro. Porém manter um equilíbrio imparcial é uma
tarefa nada fácil. De fato, a maioria dos estudiosos preferem dar suas
sentenças e opiniões sobre as coisas.
Seria um absurdo
pois, não mostrar as catástrofes da história. Porém, fazer um maniqueísmo,
"bom e mau", "vencidos e vencedores" talvez não seja
suficiente e nem adequado, no campo da História. Compreendemos G.Dias que é um
POETA, num contexto de resgate da cultura nativa, que se tornou-se necessária
no contexto da época. E ele faz belamente través de seus poemas. E quem não
concorda com ele quanto à barbárie cometida pelo europeu?
VIDEO DE APOIO
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Índios ( Legião Urbana )
Renato Russo brilhantemente deixou versos para a nossa reflexão
A
lírica amorosa de Gonçalves Dias, maior poeta da primeira geração de nosso
Romantismo, é marcada pela impossibilidade da realização amorosa. A chamada
"lírica do amor interrompido" ecoa os sofrimentos vividos pelo poeta
em seu malogrado relacionamento afetivo com Ana Amélia (cuja família recusou
seu pedido de casamento). Assim, há quem afirme que Gonçalves Dias teria
escrito a maior parte de seus poemas amorosos pensando nessa mulher inatingível
– como é o caso do célebre Ainda uma vez, Adeus!
Mesmo nas poesias de caráter indianista pode-se observar a frustração quanto à concretização do amor. É o que percebemos no poema Leito de folhas verdes.
Mesmo nas poesias de caráter indianista pode-se observar a frustração quanto à concretização do amor. É o que percebemos no poema Leito de folhas verdes.
Leito de folhas verdes
Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.
Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!
A flor que desabrocha ao romper d'alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.
Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!
Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram.
Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!
Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!
Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.
Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!
A flor que desabrocha ao romper d'alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.
Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!
Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram.
Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!
Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!
No poema, o poeta
filia-se à tradição medieval das canções de amigo imprimindo-lhe a cor local.
Na primeira estrofe, o eu-lírico feminino anseia pela volta de seu amado, Jatir, (1º e 2º versos) e questiona o porquê de sua demora. Note-se que aqui, os elementos da natureza corroboram a sensação de angústia da mulher (3º e 4º versos).
Na segunda e terceira estrofes temos o leito de amor, feito sob a copa da mangueira e feito de folhas brandas. Aqui, a natureza traduz toda a doçura do esperado encontro amoroso: mimoso tapiz de folhas brandas; o frouxo luar brinca entre flores; solta o bogari mais doce aroma.
A espera se prolonga e a angústia cresce, como evidencia a metáfora contida nos versos 4º e 5º da 5ª estrofe: Eu sou aquela flor que espero ainda / Doce raio do sol que me dê vida. Ela é a flor que depende dos raios de sol (a presença do amado) para viver.
A 6ª estrofe evidencia a idealização do amor, que vence todos os obstáculos (versos 1 e 2). Da mesma forma é idealizada a figura feminina que devota total fidelidade ao seu homem, conforme observamos na 7ª estrofe.
Na última estrofe temos a desilusão do eu-lírico. Com a chegada da manhã, a esperança e a expectativa dão lugar à decepção e à tristeza, pois Jatir não responde ao seu chamado. Pede então que a brisa da manhã leve consigo as folhas do leito inútil.
Em Leito de folhas verdes temos, portanto uma síntese dos elementos mais caros à tradição romântica: o sentimentalismo, a idealização amorosa, a idealização da figura feminina, a natureza expressiva, o medievalismo e o nacionalismo (de matiz indianista)
Na primeira estrofe, o eu-lírico feminino anseia pela volta de seu amado, Jatir, (1º e 2º versos) e questiona o porquê de sua demora. Note-se que aqui, os elementos da natureza corroboram a sensação de angústia da mulher (3º e 4º versos).
Na segunda e terceira estrofes temos o leito de amor, feito sob a copa da mangueira e feito de folhas brandas. Aqui, a natureza traduz toda a doçura do esperado encontro amoroso: mimoso tapiz de folhas brandas; o frouxo luar brinca entre flores; solta o bogari mais doce aroma.
A espera se prolonga e a angústia cresce, como evidencia a metáfora contida nos versos 4º e 5º da 5ª estrofe: Eu sou aquela flor que espero ainda / Doce raio do sol que me dê vida. Ela é a flor que depende dos raios de sol (a presença do amado) para viver.
A 6ª estrofe evidencia a idealização do amor, que vence todos os obstáculos (versos 1 e 2). Da mesma forma é idealizada a figura feminina que devota total fidelidade ao seu homem, conforme observamos na 7ª estrofe.
Na última estrofe temos a desilusão do eu-lírico. Com a chegada da manhã, a esperança e a expectativa dão lugar à decepção e à tristeza, pois Jatir não responde ao seu chamado. Pede então que a brisa da manhã leve consigo as folhas do leito inútil.
Em Leito de folhas verdes temos, portanto uma síntese dos elementos mais caros à tradição romântica: o sentimentalismo, a idealização amorosa, a idealização da figura feminina, a natureza expressiva, o medievalismo e o nacionalismo (de matiz indianista)
SOFRIMENTO ( para a análise do aluno –
DESAFIO DO GIL )
Meu
Deus, Senhor meu Deus, o que há no mundo
Que não seja sofrer?
O homem nasce, e vive um só instante,
E sofre até morrer!
Que não seja sofrer?
O homem nasce, e vive um só instante,
E sofre até morrer!
A flor
ao menos, nesse breve espaço
Do seu doce viver,
Encanta os ares com celeste aroma,
Querida até morrer.
Do seu doce viver,
Encanta os ares com celeste aroma,
Querida até morrer.
É breve
o romper d'alva, mas ao menos
Traz consigo prazer;
E o homem nasce e vive um só instante:
E sofre até morrer!
Traz consigo prazer;
E o homem nasce e vive um só instante:
E sofre até morrer!
Meu
peito de gemer já está cansado,
Meus olhos de chorar;
E eu sofro ainda, e já não posso alivio
Sequer no pranto achar!
Meus olhos de chorar;
E eu sofro ainda, e já não posso alivio
Sequer no pranto achar!
Já farto
de viver, em meia vida,
Quebrado pela dor,
Meus anos hei passado, uns após outros,
Sem paz e sem amor.
Quebrado pela dor,
Meus anos hei passado, uns após outros,
Sem paz e sem amor.
O amor
que eu tanto amava do imo peito,
Que nunca pude achar,
Que embalde procurei, na flor, na planta,
No prado, e terra, e mar!
Que nunca pude achar,
Que embalde procurei, na flor, na planta,
No prado, e terra, e mar!
E agora
o que sou eu? - Pálido espectro,
Que da campa fugiu;
Flor ceifada em botão; imagem triste
De um ente que existiu...
Que da campa fugiu;
Flor ceifada em botão; imagem triste
De um ente que existiu...
Não
escutes, meu Deus, esta blasfêmia;
Perdão, Senhor, perdão!
Minha alma sinto ainda, - sinto, escuto
Bater-me o coração.
Perdão, Senhor, perdão!
Minha alma sinto ainda, - sinto, escuto
Bater-me o coração.
Rosa no
mar! ( para a
análise do aluno – DESAFIO DO GIL)
Por uma praia arenosa,
Vagarosa
Divagava uma Donzela;
Dá largas ao pensamento.
Brinca o vento
Nos soltos cabelos dela.
Leve ruga no semblante
Vem num instante,
Que noutro instante se alisa;
Mais veloz que a sua idéia
Não volteia,
Não gira, não foge a brisa.
No virginal devaneio
Arfa o seio,
Pranto ao riso se mistura;
Doce rir dos céus encanto,
Leve pranto,
Que amargo não é, nem dura.
Nesse lugar solitário,
— Seu fadário. —
De ver o mar se recreia;
De o ver, à tarde, dormente,
Docemente
Suspirar na branca areia.
Agora, qual sempre usava,
Divagava
Em seu pensar embebida;
Tinha no seio uma rosa
Melindrosa,
De verde musgo vestida.
Ia a virgem descuidosa,
Quando a rosa
Do seio no chão lhe cai:
Vem um'onda bonançosa,
Qu’impiedosa
A flor consigo retrai.
A meiga flor sobrenada;
De agastada,
A virge' a não quer deixar!
Bóia a flor; a virgem bela,
Vai trás ela,
Rente, rente — à beira-mar.
Vem a onda bonançosa,
Vem a rosa;
Foge a onda, a flor também.
Se a onda foge, a donzela
Vai sobre ela!
Mas foge, se a onda vem.
Muitas vezes enganada,
De enfadada
Não quer deixar de insistir;
Das vagas menos se espanta,
Nem com tanta
Presteza lhes quer fugir.
Nisto o mar que se encapela
A virgem bela
Recolhe e leva consigo;
Tão falaz em calmaria,
Como a fria
Polidez de um falso amigo.
Nas águas alguns instantes,
Flutuantes
Nadaram brancos vestidos:
Logo o mar todo bonança,
A praia cansa
Com monótonos latidos.
Um doce nome querido
Foi ouvido,
Ia a noite em mais de meia:
Toda a praia perlustraram,
Nem acharam
Mais que a flor na branca areia.
Por uma praia arenosa,
Vagarosa
Divagava uma Donzela;
Dá largas ao pensamento.
Brinca o vento
Nos soltos cabelos dela.
Leve ruga no semblante
Vem num instante,
Que noutro instante se alisa;
Mais veloz que a sua idéia
Não volteia,
Não gira, não foge a brisa.
No virginal devaneio
Arfa o seio,
Pranto ao riso se mistura;
Doce rir dos céus encanto,
Leve pranto,
Que amargo não é, nem dura.
Nesse lugar solitário,
— Seu fadário. —
De ver o mar se recreia;
De o ver, à tarde, dormente,
Docemente
Suspirar na branca areia.
Agora, qual sempre usava,
Divagava
Em seu pensar embebida;
Tinha no seio uma rosa
Melindrosa,
De verde musgo vestida.
Ia a virgem descuidosa,
Quando a rosa
Do seio no chão lhe cai:
Vem um'onda bonançosa,
Qu’impiedosa
A flor consigo retrai.
A meiga flor sobrenada;
De agastada,
A virge' a não quer deixar!
Bóia a flor; a virgem bela,
Vai trás ela,
Rente, rente — à beira-mar.
Vem a onda bonançosa,
Vem a rosa;
Foge a onda, a flor também.
Se a onda foge, a donzela
Vai sobre ela!
Mas foge, se a onda vem.
Muitas vezes enganada,
De enfadada
Não quer deixar de insistir;
Das vagas menos se espanta,
Nem com tanta
Presteza lhes quer fugir.
Nisto o mar que se encapela
A virgem bela
Recolhe e leva consigo;
Tão falaz em calmaria,
Como a fria
Polidez de um falso amigo.
Nas águas alguns instantes,
Flutuantes
Nadaram brancos vestidos:
Logo o mar todo bonança,
A praia cansa
Com monótonos latidos.
Um doce nome querido
Foi ouvido,
Ia a noite em mais de meia:
Toda a praia perlustraram,
Nem acharam
Mais que a flor na branca areia.
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