domingo, 7 de setembro de 2014

ENEM - Dicas para a SEGUNDA GERAÇÃO MODERNISTA ( prosa ) - 1930-1945

Galera sangue bom .
Deixo aqui duas dicas importantes para o ENEM.
Leia com atenção.



Bora sangue bom !!!

                                              ( tela de Portinari - pintor brasileiro )
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II GERAÇÃO DO MODERNISMO – 1930-1945



Depois da Semana de Arte Moderna, a ideia de "Modernismo" - ou seja, de novas atitudes artísticas contra a arte encarada como artificial, contra tudo o que os escritores consideravam "velho"- parecia não ter sido totalmente absorvida e a literatura no Brasil parecia não ter mudado tanto quanto se pretendia. 

Entretanto, alguns intelectuais de várias regiões começaram a manifestar-se: a verdadeira arte moderna devia retratar criticamente um Brasil mais abrangente, que mal se conhecia, cujas desigualdades sociais fossem retratadas com vigor num realismo próprio do século 20. A arte literária, segundo vários intelectuais, devia sair dos "salões aristocráticos de São Paulo", quer dizer, devia abandonar o contato apenas com o urbano, influenciado pelas vanguardas europeias.

Em 1926, ocorre um congresso em Recife e nele se encontram escritores do Nordeste; estes se dispõem, aos poucos, a fazer uma prosa regional consistente e participativa. É dessas primeiras manifestações que surgirá um dos momentos mais autênticos da literatura brasileira, o Romance de 30.

Esta nova literatura em prosa será antifascista e anticapitalista, extremamente vigorosa e crítica. Os livros didáticos a chamam com vários nomes: "Romance de 30" (porque é o início cronológico da nova literatura); romance neo-realista(porque essas obras conseguiram renovar e modernizar o realismo/naturalismo do século 19, enriquecendo-o com preocupações psicológicas e sociais) ouromance regionalista moderno (porque escapa das metrópoles e vai ao Brasil regional, preso ainda a antinomias dos séculos anteriores).

A adesão ao socialismo impôs aos escritores da época, às vezes de forma radical, fórmulas de compreensão do homem em sociedade. Os romancistas, imbuídos do sentimento de missão política, queriam mostrar as tensões que transformavam ou destruíam os homens - aliás, um tema universal e sempre vivo na literatura. 



Mas o fato é que sem os modernistas de 1922 (1ª geração), dificilmente os modernistas de 1930 (2ª geração) teriam conseguido o feito literário e social que obtiveram, porque aqueles foram os primeiros que provocaram a atualização da "inteligência" brasileira, foram eles que trouxeram para a literatura o fato não-literário e a oralidade, que tanto beneficiou o realismo seco dos escritores regionalistas, dando-lhes maior autenticidade.





QUESTÃO 01

Entre os artistas que se destacaram no cenário artístico nacional, podemos destacar Graciliano Ramos, compondo a segunda fase do Modernismo, sobretudo na prosa. Assim, entre as magníficas obras que criara, uma delas se destaca pela temática voltada para o regionalismo brasileiro - Vidas Secas. Acerca dela, procure explicitar algumas particularidades relacionadas à temática trabalhada pelo autor em questão, enfatizando, sobretudo, os posicionamentos ideológicos por ele firmados – oriundos de todo um contexto social dominante. Para facilitar seu posicionamento frente à questão, propusemo-nos em descrever uma passagem:
A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida.
[...]
Sinha Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta: — Vão bulir com a Baleia?
[...]
Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras.
Quiseram mexer na taramela e abrir a porta, mas sinha Vitória levou-os para a cama de varas, deitou-os e esforçou-se por tapar-lhes os ouvidos: prendeu a cabeça do mais velho entre as coxas e espalmou as mãos nas orelhas do segundo. Como os pequenos resistissem, aperreou-se e tratou de subjugá-los, resmungando com energia.
Ela também tinha o coração pesado, mas resignava-se: naturalmente a decisão de Fabiano era necessária e justa. Pobre da Baleia.
[...]



Sobre o excerto acima de Vidas Secas podemos considerar como corretas:



I-             O autor demonstra claramente sua indignação acerca das intempéries que circundavam a realidade circundante, agiu assim como o fizeram todos os artistas que trabalharam a temática social, sobretudo os pertencentes à segunda geração modernista. Naquela época, o que se via era um Nordeste situado em meio à fome, à miséria, à decadência do ciclo canavieiro. Um Nordeste desenhado por retirantes em busca de sobrevivência, assim como a família de Fabiano, personagem do romance que demarcou para sempre a história da Literatura brasileira de todo os tempos.

II-           Em face da situação em que viviam, as pessoas eram tipificadas a um estado de coisa, retratadas nitidamente pela figura dos dois filhos de Fabiano, os quais nem nome possuíam.

III-          Outro aspecto, também trabalhado pela genialidade do escritor, foi a ironia – recurso esse que ele encontrou para justamente expressar a forma como se sentia enquanto ser humano subordinado ao poderio da classe política, voltada somente para a concentração de bens da classe dominante. Nada melhor que Baleia, simbolizando algo forte, robusto, e Sinhá Vitória, que literalmente, simbolizava, só que de modo oposto, o fracasso do ser humano, permeado nas entranhas do próprio destino.





a)    I e II certas   b) I , II e III certas  c) I e III certas d) II e III certas  e) apenas I certa




QUESTÃO 02 

 Leia o fragmento abaixo transcrito da obra “Vidas Secas” e responda à questão a seguir:

Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes, utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admira as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas.
(Graciliano Ramos)
No texto, a referência aos pés:

(A) Constitui uma valorização do mundo cultural e o mundo físico do personagem.

(B) Acentua a rudeza do personagem, em nível físico. O texto reforça assim a perda de valores do personagem.

(C) Justifica-se como preparação para o fato de que o personagem não estava preparado para caminhada.

(D) Serve para demonstrar a capacidade de pensar do personagem.



QUESTÃO 03



Leia com atenção o texto retirado da obra Vidas Secas de Graciliano Ramos

Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos
[...]
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanhacado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.
 



I-              Perceba a força narrativa com que o narrador descreve a cena cruel, de retirantes exaustos sob o sol, a família silenciosa e triste, com a qual ele se solidariza ("os infelizes")

II-             A lentidão proposital da narrativa é a superação difícil do caminho sob o sol (para onde vai quem não tem terras?) e a secura descritiva reproduz o silêncio dos que estão exaustos

III-            Essa é a seca vida do herói - agora um anti-herói -, humilhado e vencido pelo meio hostil.



a)    I , II e III certas   b) I e  II certas  c) I e III certas d) II e III certas  e) apenas I certa



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Uma outra obra importante do período



Gabriela, cravo e canela ( Jorge Amado )
Crônica de uma cidade do interior

     Vinda do agreste, Gabriela chega a Ilhéus em 1925, em busca de trabalho. É levada do “mercado dos escravos”, lugar onde acampam os retirantes, pelo árabe Nacib. O dono do bar Vesúvio não atenta de imediato para a beleza da moça, escondida sob os trapos e a poeira do caminho. Não tarda, porém, a descobrir que ela tem a cor da canela e o cheiro do cravo. Em breve, todos os homens da cidade vão se render aos encantos de Gabriela.
     Ela assume a cozinha do bar, e o Vesúvio ferve por conta do tempero e da presença inebriante de Gabriela. Apaixonado, o ciumento Nacib decide que o melhor é se casar. Gabriela passa a ter obrigações que não combinam com seu espírito livre e rústico. No entanto, não se deixa subjugar. Nacib a flagra na cama com Tonico Bastos e manda anular o casamento. Mas Gabriela ainda voltará a ser sua cozinheira e a freqüentar sua cama.
     Gabriela, cravo e canela narra o caso de amor entre o árabe Nacib e a sertaneja Gabriela e compõe uma crônica do período áureo do cacau na região de Ilhéus. Além do quadro de costumes, o livro descreve alterações profundas na vida social da Bahia dos anos 1920: a abertura do porto aos grandes navios leva à ascensão do exportador carioca Mundinho Falcão e ao declínio dos coronéis, como Ramiro Bastos. É Gabriela quem personifica as transformações de uma sociedade patriarcal, arcaica e autoritária, convulsionada pelos sopros de renovação cultural, política e econômica
.



Gabriela, cravo e canela inaugura uma nova fase na obra de Jorge Amado. A partir deste romance, o autor atenua o conteúdo político que marcou seus primeiros livros para dar ênfase à mistura racial, ao erotismo e a uma percepção sensorial do mundo. Ganham destaque as personagens femininas: as mulheres passam ao centro das narrativas como mito sexual, mas também como agentes do próprio desejo.
     Gabriela, cravo e canela foi o primeiro livro escrito por Jorge Amado depois de deixar o Partido Comunista. Publicado em 1958, o romance recebeu no ano seguinte os prêmios Machado de Assis e Jabuti. Pouco depois, em 1961, Jorge Amado seria eleito para a Academia Brasileira de Letras, em grande parte graças ao estrondoso sucesso do livro. Gabriela virou novela da TV Tupi, em 1961, e mais tarde da rede Globo, em 1975. Traduzido para mais de trinta idiomas, Gabriela, cravo e canela é o livro de Jorge Amado com o maior número de traduções.



QUESTÃO 04

Leia o texto que segue, de Jorge Amado, e responda ao que se pede.



Naquele ano de 1925, quando floresceu o idílio da mulata Gabriela e do árabe Nacib, a estação das chuvas tanto se prolongara além do normal e necessário que os fazendeiros, como um bando assustado, cruzavam-se nas ruas a perguntar uns aos outros nos olhos e na voz: Será que não vai parar? Referiam-se às chuvas, nunca se vira tanta água descendo dos céus, dia e noite, quase sem intervalos. Mais uma semana e estará tudo em perigo. A safra inteira. Meu Deus! Falavam da safra anunciando-se excepcional, a superar de longe todas as anteriores. Com os preços do cacau em constante alta, significava ainda maior riqueza, prosperidade, fartura, dinheiro a rodo. Os filhos dos coronéis indo cursar os colégios mais caros das grandes cidades, novas residências para as famílias nas novas ruas recém abertas, móveis de luxo mandados vir do Rio, pianos de cauda para compor as salas, as lojas sortidas, multiplicando-se, o comércio crescendo, bebida correndo nos cabarés, mulheres desembarcando dos navios, o jogo campeando nos bares e nos hotéis, o progresso enfim, a tão falada civilização. E dizer-se que essas chuvas agora demasiado copiosas, ameaçadoras, diluviais, tinham demorado a chegar, tinham-se feito esperar e rogar! Meses antes, os coronéis levantavam os olhos para o céu límpido em busca de nuvens, de sinais de chuva próxima. Cresciam as roças de cacau, estendendo-se por todo o sul da Bahia, esperavam as chuvas indispensáveis ao desenvolvimento dos frutos acabados de nascer, substituindo as flores nos cacauais. A procissão de São Jorge, naquele ano, tomara o aspecto de uma ansiosa promessa coletiva ao santo padroeiro da cidade. (Jorge Amado, Gabriela, Cravo e Canela)

De acordo com o texto, o comércio do cacau
a) Não alterava a vida dos filhos dos coronéis.
b) não mudava a rotina da cidade.
c) negava o princípio de civilização
d) Interessava apenas os coronéis
e) Fundamentava o progresso da cidade



TEXTO PARA LEITURA


Leia com atenção estes trechos sobre o  Romance Gabriela



Texto crítico
Desde o segundo dia na casa de Nacib, já dormiam juntos à noite, e assim, ele morria em seus braços ardentes e corpo insaciável. Para Nacib, o fogo de sua pele morena cor de cravo e cheiro de canela estava cravado no seu corpo, que não queria perder.
Ao se analisar o titulo da obra Gabriela, Cravo e Canela, é possível perceber ao apelo de sentido a que se remete, improvisando - se saboroso com exaltadas sugestões de paladar (cravo, canela), a que não pode ser considerada estranha insinuação, assim como (cor) que evidencia uma preferência de estilo, a morena, como tipo ideal de mulher, de fêmea. Gabriela é a morena tropical, cor de canela que se constitui no tipo ideal de beleza mestiça, reunindo encantos físicos peculiares da branca e negra, expandindo beleza e sensualidade.



Gabriela nutria sentimentos por seu Nacib, era contente "Era bom dormir com ele, a cabeça descansando em seu peito cabeludo, sentindo nas ancas o peso da perna do homem gordo e grande, um moço bonito" (p.180), mas, não queria ver-se casada com ele, questionava os moldes patriarcalistas, como exemplo, o casamento. Não entendia certas convenções sociais e não queria adaptar-se a elas, gostava de manter relações amorosas com seu patrão, mas não queria assumir uma postura de mulher casada, até mesmo, por sentir-se inferior a ele, pensava que não possuía atributos de uma senhora.



Era uma mulher que aspirava por liberdade e a todo o momento resistia aos padrões patriarcais da sociedade vigente. Seus modos representavam uma rebelião contra o moralismo da época, além de expressar um caráter libertário que não se enquadrava diante as boas condutas. Audaciosa, ela germinava novos princípios de comportamento que até então eram inadmissíveis para as mulheres, pois Gabriela primava pela vida de solteira e por sua liberdade


Trecho da obra


"Era bom dormir com ele, a cabeça descansando em seu peito cabeludo, sentindo nas ancas o peso da perna do homem gordo e grande, um moço bonito" (p.180)




gabarito

1.B
2.B
3.A
4.E