HUMANISMO- GIL VICENTE
leitura obrigatória para o prise 1 / prosel 1
UEPA 2014
organizador do material
material consultado Prof. Aurismar Queiroz
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HUMANISMO- O INÍCIO DE UMA NOVA VISÃO DE MUNDO
No
Humanismo, o que veremos é o abandono de uma postura inteiramente servil aos
ditames da Igreja Católica. A valorização dos estudos clássicos faz com que o
homem passe a se importar cada vez mais com uma postura racional.
TEOCENTRISMO ANTROPOCENTRISMO
O teocentrismo
medieval é substituído pela valorização do homem, pelo reconhecimento de suas
potencialidades, pela crença em sua capacidade de controlar o próprio destino.
Com o Renascimento, essa valorização do homem acaba por construir uma visão de
mundo antropocêntrica.
Ø
Período de transição da cultura medieval para a
cultura clássica;
Ø
A economia de subsistência feudal é substituída
pelas atividades comerciais;
Ø
A expansão marítima propicia o desenvolvimento do
comércio- surge o mercantilismo;
Ø
O homem adquire nova consciência: vai deixando de
ser passivo e começa a crer que ele é o responsável pelo próprio destino;
Ø
Teocentrismo dá lugar ao antropocentrismo.
Foi nessa época que surgiu uma nova classe social: a burguesia. Os
burgueses não eram nem servos e nem comerciantes. Com o aparecimento desta nova
classe social foram aparecendo as cidades e muitos homens que moravam no campo
se mudaram para morar nestas cidades, como consequência o regime feudal de
servidão desapareceu.
Gil Vicente- Teatro medieval
Gil Vicente é considerado o pai do teatro português, tendo produzido sua
obra entre os séculos XV e XVI, na transição entre a idade média e o
renascimento. Ele começa a colocar
o popular em seus textos, apresentando a cultura portuguesa nos palcos.
O teatro foi a manifestação literária onde ficavam mais claras as
características desse período.
Gil Vicente foi o nome que mais se destacou, ele escreveu mais de 40
peças.
Sua obra pode ser dividida em 2 blocos:
Autos: peças teatrais cujo assunto principal é a religião.
“Auto da alma” e “Trilogia das barcas” são
alguns exemplos.
Farsas: peças cômicas curtas. Enredo baseado no cotidiano.
“Farsa de Inês Pereira”, “Farsa do velho da
horta”, “Quem tem farelos?” são alguns exemplos.
Características gerais do
teatro vicentino
Caráter popular- representa os vários tipos humanos, a linguagem é rica e variada de
acordo com a origem e posição das personagens.
Crítica à sociedade da
época. Mostra os erros e vaidades dos vários tipos
humanos; censura a hipocrisia dos padres que não fazem o que pregam; denuncia
os exploradores do povo.
AUTO DA ROMAGEM DE AGRAVADOS- GIL VICENTE
Definição de Auto (latim: actu = ação, ato) é uma composição
teatral1 do subgênero da literatura dramática, surgida na Idade Média, na Espanha, por volta do século XII. De linguagem simples, os autos, em sua maioria,
têm elementos cômicos e intenção moralizadora. Suas personagens simbolizam as
virtudes, os pecados, ou representam anjos, demônios e santos. Personagens
essas consideradas personagens tipos.
Características principais dos autos:
·
Linguagem
simples;
·
Elementos
cômicos e moralizantes;
·
Personagens
tipos (simbolizam as virtudes, os pecados, ou representam anjos, demônios e
santos);
·
Visava satirizar
pessoas
·
Moral como
elemento principal (decisivo).
Romagem de Agravados- resumo
Peça de circunstância- Foi representada com o
intuito de celebrar o nascimento do Infante D. Filipe, no dia 25 de Maio de 1533.
Esta obra, em que cada uma das cenas é tratada de
forma satírica, tem por tema a peregrinação dos descontentes.
Todos os indivíduos intervenientes sentem-se
lesados e queixam-se de algo. Existe, no entanto, uma personagem, que tem como
função dirigir o jogo, de seu nome Frei
Paço, e que representa o eclesiástico de corte.
As demais
personagens apresentam-se aos pares:
·
João Mortinheira
e Bastião, seu filho (camponeses);
·
Bereniso e
Colopêndio (fidalgos apaixonados);
·
Marta do Prado e
Branca do Rego (regateiras);
·
Cerro Ventoso e
Frei Narciso (dois ambiciosos);
·
Aparicianes e
sua filha Giradela (camponeses),
·
Domicília e
Dorosia (freiras)
·
Hilária e
Juliana (pastoras).
Análise da obra
A peça tem como tema uma peregrinação de
descontentes que desmascara a corrupção e a
vaidade, a ambição e a leviandade. Romaria de romeiros agravados, onde
"alguns se agravam de abastados".
Já desde o parlamento inicial de Frei paço, este faz uma apresentação da obra e de si próprio num tom irônico que, proporciona a chave
satírica da Romagem.
“O auto
que ora vereis se chama irmãos amados
Romagem dos Agravados inda que alguns achareis que se agravam de abastados.” 45
Na Romagem de agravados ,
quinze interlocutores, como são designados no auto, dialogam com Frei Paço, o
apresentador do prólogo, sobre seus agravos pessoais, na opinião do frade,
geralmente infundados. João Mortinheira queixa-se de Deus. Homem rústico está descontente com Deus que sempre
manda chuvas e sol em horas erradas, destruindo suas colheitas. Quer fazer do
filho um padre para que este não sofra tanto:
"Que chove quando não quero, / e faz um sol
das estrelas, / quando chuva alguma espero".
Os diálogos são bem articulados, e há um nexo
natural entre as cenas.
Os romeiros se sucedem diante de Frei Paço e com
ele dialogam (desfilando sobre a verdade). Lembro que o frade entra em cena
ridiculamente vestido:
"com
seu hábito e capelo, e gorra de veludo, e luvas, e espada dourada, fazendo
meneios de muito doce cortesão"
É uma
personagem-síntese da confusão de valores. É dúbia, de identidade duvidosa,
feliz na sua maneira de parecer. De posse dessa fórmula de bem viver, o frade
manifesta-se satisfeito com sua pessoa, enquanto a tônica das queixas dos
agravados é um coro de inconformismo. O frade sugere:
"faze o
que te eu disser: / conforma-te c'o que Deus quer, / e do siso faze
espelho"
e o vilão retruca:
"Conforme-se ele comigo / er também no que é
rezão"
Os dois fidalgos enamorados
reclamam de amores mal correspondidos, mas são apegados ao sofrimento a ponto
de Colepêndio dizer:
"ando tão fora do eixo, / que eu mesmo busco
e quero / os males de que me queixo", o que leva ao comentário do frade:
"se isso assi conheceis, / que vós per vós vos matais, / culpados, a quem
culpais? / Mortos, que vida quereis, / ou de que vos agravais?" 21
As regateiras Branca do Rego e Marta do Prado
arengam por causa do casamento de uma sobrinha e pouco se importam com as
intervenções de Frei Paço de quem troçam, chamando-o de 'Frei Cigarra', 'mano
frei trogalho', 'padre, frei chocalho', 'frei bolorento'.
Anunciam a aproximação de Frei Narciso, um frade
contrariado por não ter sido feito bispo, e Cerro Ventoso que se queixa do Paço
a que se dedicou como escravo e só tem de renda quatro mil cruzados (uma soma considerável
na época), ele que gostaria de ser conde.
Vêm, também, duas freiras "[...] queixosas e
agravadas, / porque as fazem encerradas, / e viver em observância" 22 .
Finalmente,
as pastoras Ilária e Juliana queixam-se de que as querem casar à força:
"Eu não sei por que respeito / nossas mães e
nossos pais / nos trazem maridos tais, / tanto contra nosso jeito, / que os
diabos não são mais" 23 .
Desta vez o conselho é do vilão:
"Casai iaramá com siso, / e daí ao demo a
feição, / que se seca logo isso. / E quem casa com aviso / acha em casa a
descrição" 24 .
Frei Paço dá a palavra final:
"Agravos
que não têm cura procurai de os esquecer; qu'impossível é vencer batalha contra
ventura, quem ventura não tiver".
Anuncia que a Rainha teve um filho e que todos
devem cantar em homenagem ao menino, dom Felipe.
GV130. Branca e
Marta
Mor Gonçalves,
Tão mal que
m'encarcelastes
Nos Paços
d'ElRei,
E na camara da
Rainha,
Du bailava
ElRei,
E con Dona
Catherina,
Mor Gonçalves,
E tão mal que
m'encarcelastes.
(canta Jorge
Teles)
GV131. Todos
Por Maio era por
Maio
Ocho dias por
andar,
El Ifante Don
Felipe
Nació en Evora
ciudad.
Huha! huha!
Viva el Ifante,
el Rey y la Reina
Como las aguas
del mar.
El Ifante Don
Felipe
Nació en Evora
ciudad,
No nació en
noche escura,
Ni tanpoco por
lunar.
Huha! huha!
Viva el Ifante,
el Rey y la Reina
Como las ondas
del mar.
No nació en
noche escura
Ni tanpoco por
lunar,
Nació cuando el
sol decrina
Sus rayos sobre
la mar.
Huha! huha!
Viva el Ifante,
el Rey y la Reina
Como las aguas
del mar.
Nació cuando el
sol decrina
Sus rayos sobre
la mar,
En un dia de
domingo,
Domingo para
notar.
Huha! huha!
Viva el Ifante,
el Rey y la Reina
Como las ondas
del mar.
En un dia de
domingo,
Domingo para
notar,
Cuando las aves
cantaban
Cada una su
cantar.
Huha! huha!
Viva el Ifante,
el Rey y la Reina
Como la tierra y
la mar.
Cuando las aves
cantaban
Cada una su
cantar,
Cuando los
árboles verdes
Sus fructos
quieren pintar.
Huha! huha!
Viva el Ifante,
el Rey y la Reina
Como las aguas
del mar.
Cuando los
árboles verdes
Sus fructos
quieren pintar
Alumbró Dios á
la Reina
Con su fructo
natural.
Huha! huha!
Viva el Ifante,
el Rey y la Reina
Como las aguas
del mar.
(cantam Graciano
Santos, Rubem Ferreira Jr e Kátia Santos)
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Comentários
Aqui temos um Gil Vicente num de seus mais
característicos momentos: o fazer desfilar figuras típicas de seu tempo. Deve
ser esta a peça que mais apresenta peculiaridades sobre a sociedade daquela
época.
Exploração social, oportunismos, falsidades, a
possibilidade de ascensão para mulheres jovens e bonitas, casamentos
organizados pelas famílias. Nalguns aspectos Gil Vicente, sem nenhum mérito, é
claro, é atualíssimo. Aliás, ressalte-se que algumas renvindicações já existiam
naquele tempo: a liberdade de escolher marido e o excessivo rigor do claustro.
Como sempre, as críticas a práticas daninhas à sociedade, aparecem claras e contundentes. Quando as tias da moça enganada explicam como o noivo da sobrinha as enganou, enumeram pessoas do palácio que davam, sem o conhecimento do rei, documentos falsos, para indicar que o portador gozava de benefícios como uma pensão real.
A cena do exercício de comportamento palaciano entre a Moça e o Frei Paço é inesquecível. O texto específico da canção final indica que a mesma, com certeza, foi feita pelo autor.
ANÁLISE DETALHADA DE ASPECTOS IMPORTANTES
ROMAGEM DOS AGRAVADOS
Apresentada
no ano de 1933, ao já então rei de Portugal, D. João III, quando do nascimento
de seu filho o infante D. Felipe, a obra pertence à terceira fase do teatro
vicentino.
- CLASSIFICAÇÃO DA OBRA: farsa de caráter satírico, apesar de aparecer no livro das Tragicomédias. Romagem dos agravados significa romaria dos ofendidos. A fala inicial de Frei Paço é a chave da sátira da Romagem.
- PERSONAGENS: Frei Paço, João Mortinheira e Bastião seu filho, Bereniso e Colopêndio fidalgos, Marta do Prado e Branca do Rego regateiras, Cerro Ventoso, Frei Narciso, Aparício Eanes e sua filha Giralda, Domicília e Dorosia freiras, Hilária e Juliana pastoras.
características
na peça:
- As personagens como tipos prefigurados e já conhecidos do público (lavradoras, pastoras, freiras, freires, fidalgos, regateiras ...);
- A acumulação de casos que dão corpo as personagens;
- as personagens desfilam a moda de procissão dando ao título da peça uma nova dimensão expressiva;
- As personagens que se incorporam à cena são apresentadas por outra já conhecida (Frei Paço)
- O nome das personagem tem uma carga expressiva que descreve de antemão o caráter da personagem, e/ou a verdade ou falsidade de seu agravo (sua ofensa), com é o caso de "Dorósia", que lembra "dor".
- Frei Paço funciona como elemento motor da obra. Sempre anunciando a próxima personagem e dialogando com elas. Ele faz a fala inicial apresentando a peça.
Observe:
"O
auto que ora vereis
se chama irmãos amados
Romagem dos Agravados
inda que alguns achareis
que se agravam de abastados. 45
E pera declaração
desta obra santa et cetra
quisera dizer quem são
as figuras que virão
por se entender bem a letra". 50
se chama irmãos amados
Romagem dos Agravados
inda que alguns achareis
que se agravam de abastados. 45
E pera declaração
desta obra santa et cetra
quisera dizer quem são
as figuras que virão
por se entender bem a letra". 50
A estrutura da obra está assentada na
repetição e numa considerável simetria, mas introduzem elementos de variação,
como o fato de diferentes personagens alternarem com Frei Paço a apresentação
de novas figuras.
Outra característica observada na peça é a
caracterização das personagens através da linguagem.
- Apraciantes: lavrador que fala bem;
- Maria do Prado e Branca Rego: linguagem cheia de desvios para mostrar sua classe social baixa.
- Uso de linguagens especiais no diálogo de Frei Paço com Bastian e Giralda e a canção que encerra a peça.
"Frei
Paço
Ó senhora que matais
a todos quantos feris 810
e a ninguém perdoais.
Giralda Quam docemente mentis
todos quantos bem falais."
a todos quantos feris 810
e a ninguém perdoais.
Giralda Quam docemente mentis
todos quantos bem falais."
- Os jogos com os duplos sentidos das palavras e expressões, postos na boca de personagens dentistas, como elemento satírico.
Veja aqui, onde Cerro Venturoso faz um
trocadilho entre Paço, nome do Frei, e paço que também significa castelo real,
ao fazer comparação entre Frei Paço e São Gerônimo.
"Mas
vós padre sois do Paço
e sam Jerónimo do ermo
e nam dobrais vosso braço
açoutando o espinhaço 635
nem trazeis o peito enfermo".
e sam Jerónimo do ermo
e nam dobrais vosso braço
açoutando o espinhaço 635
nem trazeis o peito enfermo".
OS TEMAS DA CRÍTICA
Além da construção satírica a obra
estrutura-se em três planos fundamentais: a crítica ao estamento (divisão)
clerical; a crítica ao estamento nobiliar (entre os nobres) e a crítica de
costumes sociais. Ponto comum entre os planos é o rejeitamento de um
comportamento ético firmado na ambição desmedida e torpe, personificada em
tipos que são ridicularizados pelo autor. O próprio Frei Paço que dirige as
críticas as demais personagens reflete em si todos os vícios.
- CRÍTICA AO ESTAMENTO CLERICAL: Crítica à Igreja
- A figura de Frei Narcisio representa:
ambição social, falta de vocação espiritual, a relaxação dos membros da igreja:
Frei Narcísio galanteia a freira Dorosia.
"Dorosia
Deo gracias padre Narciso.
Frei Narciso Pera sempre aleluia.
Dorosia Pois is nesta romaria 890
assi Deos vos dê o paraíso
que vamos em companhia.
Frei Narciso Iria mui ledo em cabo
milhor que pera o mosteiro
mas o amor é tam ligeiro 895
que o dai vós ao diabo
e temo seu cativeiro.
Dorosia Iremos padre rezando
sempre de noite e de dia.
Frei Narciso Já disse que folgaria 900
mas temo de ir sospirando
mais vezes do que eu queria"
Frei Narciso Pera sempre aleluia.
Dorosia Pois is nesta romaria 890
assi Deos vos dê o paraíso
que vamos em companhia.
Frei Narciso Iria mui ledo em cabo
milhor que pera o mosteiro
mas o amor é tam ligeiro 895
que o dai vós ao diabo
e temo seu cativeiro.
Dorosia Iremos padre rezando
sempre de noite e de dia.
Frei Narciso Já disse que folgaria 900
mas temo de ir sospirando
mais vezes do que eu queria"
Frei Narcisio faz críticas ao sistema de
provisão de cargos de autoridades dentro da igreja.
"Frei
Narciso Já fizessem-me ora bispo
siquer do ilhéu de Peniche 605
pois sam frade pera isso.
Que, sem saber ler nem rezar,
vi eu já bispos que pasmo
e nam sei conjecturar
como se pode assentar 610
mítara em cabeça de asno".
siquer do ilhéu de Peniche 605
pois sam frade pera isso.
Que, sem saber ler nem rezar,
vi eu já bispos que pasmo
e nam sei conjecturar
como se pode assentar 610
mítara em cabeça de asno".
Frei Narcísio representa também a
hipocrisia, pois ao mesmo tempo que galanteia a freira, repreende o desejo de
liberdade de Dorósia e Domicília, recomendando-lhes se submeteram ao regime de
observância do mosteiro.
- A CRÍTICA AO ESTAMENTO DA NOBREZA
- Personagens típicas: Colopêndio e
Berenisio representam atitudes corteses já ultrapassadas, os tópicos do
namorado sofredor e da crueldade da dama por sua não correspondência amorosa.
São utilizadas hiperboles (exageros) e estilo pastoril.
Veja.
"Porque tais carreiras sigo
e com tal dita naci 215
nesta vida em que nam vivo
que eu cuido que estou comigo
eu ando fora de mi.
Quando falo estou calado
quando estou entonces ando 220
quando ando estou quedado
quando durmo estou acordado
quando acordo estou sonhando.
Quando chamo entam respondo
quando choro entonces rio 225
quando me queimo hei frio
quando me mostro me escondo
quando espero desconfio.
Nam sei se sei o que digo
que cousa certa nam acerto 230
se fujo de meu perigo
cada vez estou mais perto
de ter mor guerra comigo."
Por seu lado, Cerro Ventoso representa a
ambição ao dinheiro e a dignidade nobiliar.
- Estamentos mais populares (lavradeiras, regateiras, pastoras) serve para o autor oferecer uma perspectiva de numerosos fenômenos sociais:
a) A percepção utilitarista da religião,
como J. Mortinheira quer que seu filho, sem nenhum talento, se torne uma membro
da igreja visando a ascensão social.
b) O anticlericalismo e a crítica aos
poderosos.
"Branca
Eles são os presidentes 470
e os mesmos requerentes
e se lhes dizeis que é mal
tornam a culpa ao sinal
e eles fazem-se inacentes".
e os mesmos requerentes
e se lhes dizeis que é mal
tornam a culpa ao sinal
e eles fazem-se inacentes".
c) As tentativas de ascensão social por
parte das classes baixas, Giralda e Bastian representam isso.
d) Os casamentos acertados e a questão do
livre alvedrio (livre-arbítrio). Hilária e Juliana renegam os maridos que as
suas famílias procuram para elas, pela sua vez apaixonados por outros
pretendentes.
Hilária
O meu Silvestre anda morto
porque me querem casar 940
com o filho de Pero Torto.
Juliana E o meu Brás quer-se enforcar
porque me casam no Porto.
Hilária Silvestre há de fazer
um desatino de si. 945
Juliana E Brás há de endoudecer
pois Deos nam há de querer
que eu nada faça de mi.
Hilária Juliana que faremos?
Juliana Bofé Hilária nam sei. 950
Hilária Sabes mana que eu farei?
Juliana Dize rogo-to e veremos.
Hilária Escuta que eu to direi...
Direi que andando a de parte
com o meu gado em Alqueidão 955
me apareceu uma visão
que me disse: moça guar-te
de chegares a barão.
E assi me escusarei
deste negro casamento 960
e depois andando o tempo
outra visão acharei
que case a contentamento.
Juliana Eu direi que um escolar
me tirou o nacimento 965
e disse: o teu casamento
se no Porto hás de casar
amara vida te sento.
Ca serás demoninhada
esses dias que viveres. 970
Hilária Quê? Co essa emborilhada
ficarás desabafada
casarás com quem quiseres.
Juliana A fortuna todavia
nos tem que farte agravadas 975
andemos nossas jornadas
cheguemos à romaria
e seremos descansadas.
porque me querem casar 940
com o filho de Pero Torto.
Juliana E o meu Brás quer-se enforcar
porque me casam no Porto.
Hilária Silvestre há de fazer
um desatino de si. 945
Juliana E Brás há de endoudecer
pois Deos nam há de querer
que eu nada faça de mi.
Hilária Juliana que faremos?
Juliana Bofé Hilária nam sei. 950
Hilária Sabes mana que eu farei?
Juliana Dize rogo-to e veremos.
Hilária Escuta que eu to direi...
Direi que andando a de parte
com o meu gado em Alqueidão 955
me apareceu uma visão
que me disse: moça guar-te
de chegares a barão.
E assi me escusarei
deste negro casamento 960
e depois andando o tempo
outra visão acharei
que case a contentamento.
Juliana Eu direi que um escolar
me tirou o nacimento 965
e disse: o teu casamento
se no Porto hás de casar
amara vida te sento.
Ca serás demoninhada
esses dias que viveres. 970
Hilária Quê? Co essa emborilhada
ficarás desabafada
casarás com quem quiseres.
Juliana A fortuna todavia
nos tem que farte agravadas 975
andemos nossas jornadas
cheguemos à romaria
e seremos descansadas.
A questão do livre arbítrio, já implícita
no problema do casamento, atinge as freiras Dorósia e Domicília, reclusas no
convento contra a própria vontade. Essa questão se completa no diálogo
entre Frei Paço e Marta do Rego sobre a determinação. Frei paço assume a
postura determinista nos planos sociais, Marta Rego, a de
antideterminista.
Veja esse trecho interessante:
"Frei
Paço
Porque os casamentos 500
todos são porque hão de ser
e com quem, desde o nacer,
e a que horas e momentos
assi há de acontecer.
E assi as
religiosas 505
naceram pera ser
freiras
e vós pera regateiras
outras pera ser viçosas
e outras pera
canseiras.
Marta
E vós mano frei
trogalho
510
em que perneta
nacestes
que màora cá viestes?
Dizei padre frei
chocalho
tudo vós isso aprendestes.
Cebolinho e espinafre 515
já vo-la barba nace
ora ouvide-lhe o
sermão
e tangede-lhe o atabaque
nam caia ponde-lhe a mão.
O que as pranetas
fazem 520
é porque nós o
causamos
e se fortunas nos
trazem
é porque nós as buscamos
que os erros de nós nacem. "
É Frei Paço quem encerra a peça com esse
discurso em tom moralizante como é toda a obra:
Frei
Paço
Agravos que nam tem cura
procurai de os
esquecer
que impossível é
vencer
batalha contra ventura
quem ventura nam
tiver. 1050
Nam deve lembrar
agora
agravos nem fantesias
senam muitas alegrias
à rainha nossa senhora
que viva infinitos dias. 1055
Cantemos uma cantiga
ao mesmo ifante
bento
e ao seu bento nacimento
por que a rainha nam diga
que somos homens de vento. 1060
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
dúvidas whatsapp 91 81407296
91 81407296

e-mail: profgilmattos@hotmail.com
Professor,seu material é divino.Mas,tire-me somente uma dúvida,de fato as moças já poderiam escolher seus pretendentes naquele período?
ResponderExcluirPergunto,pois acredito mais no seu conhecimento literário do que no dos meus professores.
Desde já,muito obrigada.